🎼 - A música clássica, de dois dedos de prosa - 🎶
Muitas pessoas ainda pensam que a concepção de "música clássica"? sofreu mutação e compositores apropriaram-se da música popular da época.
Então vejamos, "música clássica" és termo consagrado, mas durante boa parte da história do ocidente talvez fosse um pouco melhor falar em "música letrada", porque o que estudamos em História da Música não é nada mais do que isso: o corpus de repertório ligado à notação; o que sobreviveu registrado por escrito.
Não é, ainda, o caso de dizer que muitos compositores "apropriaram-se" da música popular, porque a própria ideia de apropriação (ou cópia, plágio etc) é uma coisa moderna que nem se aplica a esses casos. Até mais ou menos o século XIX os motivos (melodias, estruturas harmônicas, motivos, textos, enfim, idéias musicais) circulavam livremente por aí e era possível valer-se de todo tipo de material pra compor, sem que isso fosse considerado apropriação ou plágio. Os métodos de composição por cantus firmus, por exemplo, são uma boa ilustração: fazer lá o seu contraponto pegando como base uma melodia do repertório gregoriano ou uma canção popular era o esperado, o normal, e isso não ocorria só na música - a cultura popular sempre foi uma grande fonte de alimento para a cultura letrada, dita erudita.
Pense em quantas óperas de Mozart, por exemplo, não usam sempre os mesmos tipos da Commedia dell'arte, ou na história popular do Fausto, que foi "apropriada" por Goethe e Marlowe. Dando uma olhada no que dizem Bakhtin, Ginzburg e Peter Burke sobre o conceito de circularidade da cultura é possível achar mais zilhões de exemplos.
Então sim, é perfeitamente ok usar o termo "música clássica", "erudita" ou similares porque isso não implica que se trate de algo intocado ou completamente separado de tudo o que tem raízes populares. 😉